Florbela Veiga Frade, doutora em História Moderna pela Universidade de Lisboa, investigadora bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no Centro de História de Além-Mar (CHAM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Universidade dos Açores, onde desenvolve projecto de pós-doutoramento sobre a produção religiosa, literária e científica da comunidade sefardita de Hamburgo no século XVII.
Resumo
Moshe Abudiente publicou em Hamburgo em 1633 a primeira gramática conhecida em português-hebraico naquela cidade e provavelmente no Norte da Europa. Mas sua importância vai além desta novidade na medida em que revela um eclectismo entre as tradições ibéricas e as judaico-árabes, nomeadamente no espaço dedicado ao ensino da poesia.
Uma tendência com repercussões noutras gramáticas e gramáticos. A grande novidade que esta gramática introduz no panorama europeu é o uso do português nas gramáticas hebraicas, revelando desse modo uma identidade linguística da comunidade sefardita de Hamburgo que começa a desaparecer apenas no século XVIII, mas com resquícios pelo menos até ao século XX.
Para além disso, a língua portuguesa, junto com o castelhano, revela-se como língua do ensino nas academias sinagogais (yeshivot), pois a produção de gramáticas durante o século XVII tem a intenção expressa de ajudar o estudo dos talmidim nas principais sinagogas das “Nações Portuguesas” de Amesterdão e Hamburgo. Segundo os dados apurados, a esmagadora maioria das gramáticas neste período são em português e hebraico, tal como as inscrições nas sepulturas, deste modo há uma carga simbólica bastante acentuada pois as sinagogas e os cemitérios são locais especiais de ligação dos judeus ao Divino.
[Fonte: www.academia.edu]
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