Tradução e edição: Leticia Nunes. Informações de Ewen MacAskill [“Edward Snowden: how the spy story of the age leaked out”, The Guardian
12/6/13] e Glenn Greenwald, Ewen MacAskill e Laura Poitras [“Edward
Snowden: the whistleblower behind the NSA surveillance revelations in
Hong Kong”, The Guardian, 10/6/13]
Ele revelou que, em nome da guerra contra o terror, o governo americano
armou um gigantesco esquema de vigilância de telefones, emails e todo
tipo de comunicação online. Diante da revelação, a NSA ressaltou que
monitorava via internet “apenas estrangeiros”, e não cidadãos
americanos, como se a observação suavizasse as coisas.
Nas últimas semanas, Snowden foi descrito por organizações de notícias
como “o homem mais procurado da América” e chamado de “desertor” por
membros do Congresso americano, que exigem que ele seja punido. Depois
de vazar as informações sigilosas – publicadas pelo jornal britânico The Guardian e pelo Washington Post – e revelar sua identidade, ele desapareceu. Em entrevista ao Guardian, ele justificou sua ação: “Não quero viver em uma sociedade que faz este tipo de coisa”.
Antes de sumir, Snowden também deixou claro que, apesar de querer se
identificar, queria evitar se tornar foco da cobertura midiática. “Não
quero a atenção pública porque não quero que a história seja sobre mim.
Quero que seja sobre o que o governo americano está fazendo”. Ainda em
entrevista ao jornal britânico, ele afirmou: “Eu realmente quero que o
foco esteja nestes documentos e no debate que, eu espero, acontecerá
entre cidadãos em todo o mundo sobre em que tipo de mundo queremos
viver”.
Cubo mágico
Snowden tinha a ideia de que não podia confiar nas grandes e
tradicionais organizações de mídia de seu país. Procurou, em vez disso,
jornalistas alternativos e que estivessem à vontade com a cultura dos
blogs e das mídias sociais. Confiou no comentarista do Guardian
Glenn Greenwald, que vive no Brasil. Os dois começaram a se
corresponder em fevereiro – sem que Greenwald soubesse a identidade de
seu interlocutor. Um mês antes, Snowden já havia procurado a jornalista e
documentarista Laura Poitras.
Greenwald não sabia se as informações que recebia eram genuínas, e
portanto não fez nada com elas. Em março, recebeu uma ligação de Laura,
que o convenceu de que o assunto era sério. Greenwald e Snowden
estabeleceram um sistema seguro de comunicação para a troca de
documentos sobre o programa secreto de vigilância da NSA, batizado de
Prism, que coleta informações das principais empresas de tecnologia do
mundo.
No fim de maio, Greenwald viajou a Nova York para conversar com editores do Guardian,
e, no dia seguinte, foi com Laura para Hong Kong se encontrar com
Snowden. Laura e Greenwald nunca haviam visto uma foto do vazador. “Ele
tinha um esquema elaborado para nos encontrar”, conta o jornalista. Eles
tinham que ir a um lugar específico no terceiro andar de um hotel e
pedir, em voz alta, informações sobre o endereço de um restaurante.
Snowden disse a Greenwald que estaria segurando um cubo mágico.
Os dois jornalistas ficaram surpresos ao encontrar um homem de 29 anos
como seu informante. “Eu esperava um veterano grisalho de 60 anos,
alguém do alto escalão do serviço de inteligência”, lembra Greenwald.
Depois de escutar Snowden por uma hora, no entanto, ele diz que passou a
confiar totalmente no jovem.
As entrevistas com Snowden – junto com os documentos vazados – deram ao Guardian
diversos furos, da ordem mostrando que o governo americano havia
forçado a gigante das telecomunicações Verizon a entregar os registros
telefônicos de milhares de americanos à existência do Prism.
A história sobre o programa de vigilância online também foi publicada pelo Washington Post porque Laura, que trabalha como freelancer,
havia entrado em contato com o repórter investigativo Barton Gellman
sobre o assunto. Laura acabou trabalhando em conjunto com os dois
jornais. Poucos dias depois da revelação do Prism, o Guardian divulgou a entrevista em vídeo concedida a Snowden por Greenwald – e filmada por Laura.
Sacrifício
Snowden tinha uma carreira sólida, um bom salário e uma vida
confortável no Havaí. “Estou disposto a sacrificar tudo porque não
posso, em sã consciência, permitir que o governo americano destrua a
privacidade, a liberdade da internet e as liberdades básicas de pessoas
em todo o mundo com esta máquina massiva de vigilância que está sendo
construída secretamente”, afirmou.
Fato é que sua ação abriu o debate sobre o equilíbrio entre segurança e
privacidade no mundo moderno. Mas – ao contrário do que desejava – ele
também se tornou foco da discussão: seria Snowden mocinho ou bandido?
Herói ou traidor?
[Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br]
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