Escrito por Maria do Rosário Pedreira
Depois de há três anos ter publicado o seu quarto romance com a Casa das Letras chamado Velhos Lobos, Carlos Campaniço regressa com uma história claramente alentejana.
Pouco depois do 25 de Abril, os trabalhadores rurais do Sul ocupam a terra dos latifundiários para quem trabalharam como escravos ao longo de décadas. Em Aldeia Velha – o lugar onde decorre a acção deste romance – a sociedade depara-se de repente com as mudanças criadas pela Reforma Agrária, mas também com as consequências do fim da Guerra Colonial e as novas liberdades trazidas pela Revolução. Veremos, por isso, como reagem os que perderam as propriedades (e se insurgem ou resignam com a situação) e os que continuam a trabalhar de sol a sol, embora agora para seu próprio sustento. E também os que, depois de terem lutado anos pela democracia, são agora membros do Partido e ocupam funções de relevo, ou os que acreditaram no mundo perfeito e veem os seus sonhos esfarelar-se todos os dias. Mas há também coisas que nunca mudam, por mais que os tempos tenham mudado: a bisbilhotice, a mentira, a má-língua, a maldade, o sofrimento.
Num romance em que a verdadeira personagem é a própria aldeia, é curiosamente o carteiro o elo de ligação entre todos, trazendo-nos a forma como cada um assimila os novos tempos e perspectiva o futuro. Porém, o muito que este homem cala é talvez aquilo que mais importa. Carlos Campaniço, no seu estilo inconfundível e com uma linguagem que é um tremendo veículo sensorial, oferece-nos com A Cinco Palmos dos Olhos uma obra profundamente original sobre o período da Reforma Agrária.
[Fonte: horasextraordinarias.blogs.sapo.pt]
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