quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A ‘Gramática do Português’ da Fundação Gulbenkian

Foram publicados em outubro de 2013 os dois primeiros volumes da Gramática do Português pela Fundação Calouste Gulbenkian, com cerca de 2.400 páginas.

Esta obra é o resultado de um projeto iniciado há 13 anos, e que contou com a colaboração de 40 professores e investigadores de 12 universidades portuguesas e estrangeiras.

O trabalho concilia a visão da chamada gramática tradicional com os avanços dos estudos de linguística de meados do século XX. A Gramática esclarece os usos formais do português e fornece explicações linguísticas para os desvios dos usos comuns da língua.

“Uma das características mais salientes da Gramática da Gulbenkian, e que a distingue doutras gramáticas, reside precisamente em aproveitar estes dois tipos de resultados no âmbito da investigação sobre o português, alcançados por numerosos linguistas nos últimos quarenta e poucos anos”, disse o professor do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, Eduardo Paiva Raposo, que apresentou a obra na Fundação Gulbenkian.

“Só uma equipa vasta de linguistas, especialistas em diferentes áreas, poderia ter realizado esta obra”, assim elogia o equilíbrio entre a diversidade de temas e a uniformização de estilo e de conceitos. Segundo Raposo, “o uso de uma terminologia e de um modelo fundamentados na gramática tradicional, bem como o objetivo de realizar uma obra uniforme, tanto teórica como estilisticamente, e não uma coleção solta de textos sem um fio condutor, levou a um intenso esforço de harmonização da Gramática por parte da Comissão Organizadora”.

Manuel Carmelo Rosa, diretor do Serviço de Educação e Bolsas da Fundação Gulbenkian, concorda: “É uma gramática de muita qualidade que nos permite, a nós todos – e eu me incluo nisso – ter acesso a um instrumento que nos vai ajudar a clarificar dúvidas relativamente à qualidade e à forma como nós devemos utilizar a Língua Portuguesa.”

–– Conciliar prescrição gramatical com avanços da linguística ––

A nova obra procura dar uma abordagem internacional da Língua Portuguesa: baseia-se no chamado português europeu “culto” contemporâneo, mas mostra também a dimensão geográfica da língua, com a dialetologia de Portugal e com os usos linguísticos no Brasil, em Angola e em Moçambique. Com mais de 16 mil exemplos de usos do português, a Gramática da Gulbenkian foi concebida como um suporte para tirar dúvidas e aprofundar conhecimentos sobre fenómenos da língua.

O projeto da Gramática do Português tem a chancela do Plano de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian: o terceiro volume está previsto para lançamento em 2015.

Um dos pontos de dúvidas é explicado pela também professora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, Maria Antónia Mota, uma das cinco coordenadoras do projeto: “Por exemplo: há uma tendência que se amplifica hoje em dia de pluralizar o verbo ‘haver’. E, portanto, nós ouvimos muitas pessoas dizerem: ‘haviam várias pessoas na sala’. O facto de nós verificarmos que muitos falantes cultos usam essa forma faz com que nós a encaremos.”

A forma pluralizada do verbo “haver” não é aceite segundo a Gramática do Português, mas a professora fornece uma explicação linguística para a sua ocorrência: “Os falantes que dizem ‘havia três pessoas na sala’, eles põem o verbo ‘haver’ como um verbo impessoal. E então, ‘as três pessoas na sala’ é um complemento do verbo. E depois, as pessoas que dizem ‘haviam três pessoas na sala’, elas vão interpretar ‘as três pessoas na sala’ como um sujeito deslocado à direita do verbo.”

A obra – cujo terceiro volume está previsto para ser lançado em 2015 – foi apresentada na Conferência Internacional de Educação ocorrida na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 28 de outubro de 2013. Destina-se a quem tem um nível de instrução médio ou superior e quer utilizar bem a Língua Portuguesa.

Trata-se de uma obra com a chancela do Plano de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian, aguardada há muitos anos, e uma ferramenta de grande utilidade a quem tem a Língua Portuguesa como meio de expressão e instrumento de trabalho.  :::
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• Reportagem de Inês Timóteo, da Fundação Calouste Gulbenkian, sobre o lançamento dos dois primeiros volumes de Gramática do Português:




–– Extraído da Rádio Renascença e da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, Portugal) ––

[Fonte: ventosdalusofonia.wordpress.com]

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