A revelação de que um programa ultrassecreto permite ao governo dos
Estados Unidos acesso a mensagens de correio eletrônico que circulam
pelos servidores do Google, Facebook, Twitter e Yahoo, entre outros,
trouxe a guerra cibernética para dentro de nossas casas, escritórios, lan houses, universidades e escolas.
Sabia-se que a privacidade nunca foi absoluta nas principais redes de
comunicação digital no mundo. A perda de boa parte do nosso controle
sobre nossas informações faz parte de uma troca com empresas como a
Google, por exemplo, para a qual cedemos nossos dados em troca de um
serviço grátis de correio eletrônico e armazenamento de informações. Mas
nenhum de nós tinha até agora se dado conta da possibilidade concreta
de que mensagens trocadas em família possam acabar num contexto errado,
na hora errada e em mãos erradas.
A divulgação do programa Prism, criado pela Agência de Segurança Nacional, dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), pelo ex-advogado e agora blogueiro Glenn Greenwald,
é um golpe seriíssimo na confiabilidade das empresas envolvidas. O
acordo que transformou a Google numa empresa multibilionária apoia-se na
confiança dos usuários de que seus dados não serão utilizados
indevidamente.
A gigante das buscas e serviços na internet tem agora diante de si um
dilema duríssimo: justificar a sua confiança no usuário para manter a
rentabilidade do negócio ou assumir que faz parte de um aparelho
político, com sede em Washington.
O monitoramento das mensagens de correio eletrônico e nas redes
sociais, previsto no programa Prism, pode chegar à identificação de
textos pessoais, mas seu objetivo principal é identificar tendências
para combatê-las antes que se manifestem. O processamento dos conteúdos
monitorados é feito por meio dos instrumentos de análise de correlações
probabilísticas estabelecidas a partir da análise de grandes massas de
dados. O caso Prism éuma aplicação militar da teoria dos Grandes Dados.
[Para mais detalhes sobre os Grandes Dados (Big Data), clique aqui.]
Nossas mensagens de correio eletrônico, no Facebook, Twitter,
Yahoo, torpedos trocados pelas operadoras de telefonia celular e vídeos
fazem parte da chamada guerra cibernética deflagrada pelos Estados
Unidos e que tem dois alvos prioritários: o terrorismo e a economia
chinesa. Muita gente vai lamentar ter passado a usar a internet
praticamente para tudo e outros ainda, mais assustados, podem até deixar
de usar o correio eletrônico.
Mas estamos num processo sem volta. É impossível voltar para o correio
postal ou para a economia analógica. O caso Prism mostrou que a
tecnologia pode ser usada para inúmeros fins, inclusive aqueles que
ignoramos ou detestamos. Como não podemos mais abrir mão dela, o nosso
dilema, que agora se tornou mais claro, é como vamos administrar o seu
uso.
E aí surge uma série de perguntas bem complexas. Qual o grau de
controle que podemos ter sobre os dados que entregamos a empresas como a
Google? Compromissos verbais não impediram que o projeto Prism esteja
funcionando desde 2007. É possível confiar nos governos como guardiães
dos nossos dados? É viável a formação de bancos comunitários de dados em
que os cidadãos possam controlar o uso dos mesmos?
[Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br]
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