Escrito por Igor Ricardo
Na Semana da Consciência Negra, Nilópolis inaugurou, nesta segunda-feira, a primeira galeria de arte pública da Baixada com uma exposição sobre a história dos povos africanos na região. A mostra, intitulada “Africanidades na Baixada Fluminense — Contribuição do Negro na Formação da Identidade Brasileira”, reúne gravuras, mapas e peças arqueológicas que permitem ao público ver, de perto, parte do legado cultural e histórico deixado pelos negros. Todo o acervo é do historiador Marcus Monteiro, responsável pela curadoria do evento.
— São mais de 200 peças na exposição. Acho que levei mais de 30 anos para juntar todas. É um material inédito e muito raro. Vale a pena conferir — afirmou Monteiro.
Há itens como bronzes do Benin, na África ocidental, dos séculos 18 e 19; gravuras do pintor francês Jean Debret e instrumentos usados por escravos.
Para Mãe Ciara D’ Oyá, ialorixá do Terreiro Ilé Oyá Omo Silé, que fica na cidade, a mostra traz uma forte mensagem de tolerância e de preservação da identidade negra na Baixada. Seu terreiro tem mais de cem anos e é considerado um dos mais tradicionais dentro do candomblé.
— Nós vemos aqui as máscaras geledés, usadas por algumas mulheres africanas para esconder o rosto. É a nossa ancestralidade — contou Mãe Ciara.
A Galeria Municipal de Artes Willy Voigt fica na sede da Prefeitura de Nilópolis, na Rua Pedro Álvares Cabral 305, no Centro. A exposição fica em cartaz até sexta-feira, das 9h às 17h. A entrada é gratuita.
Muito além da religião
A exposição foi organizada em cerca de 15 dias pela Secretaria municipal de Cultura de Nilópolis, liderada pelo secretário Augusto Vargas. O acervo será visitado por alunos da rede pública da região durante passeios escolares.
— Quem hoje mantém viva a cultura afro? Temos que valorizar todas essas pessoas que ainda cultivam as tradições de seus povos de origem — argumentou Augusto.
Além do historiador Marcus Monteiro, o secretário de Cultura ouviu lideranças do movimento negro na Baixada para montar a mostra. Dois deles foram o poeta e ativista Macedo Griô e a Mãe Ignez D’ Yansã, ialorixá do Ilé Axé D’ Ogum-Já e presidente da ONG Ciafro.
— Essa exposição mostra que nossa cultura vai muito além da questão religiosa. Temos vocabulário, gastronomia e vestimentas próprias... Tudo isso faz parte da nossa formação de identidade — explicou Mãe Ignez.
[Fotos: Cléber Júnior - fonte: www.extra.globo.com]

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