Portugal concedeu a nacionalidade a três descendentes de judeus expulsos do país há cerca de 500 anos. Desde que a nova lei
foi aprovada, no início do ano, deram entrada no Ministério da Justiça
247 pedidos.
Publicado por Sofia
"No passado dia 2 de outubro foram despachados favoravelmente, pela ministra da Justiça, três processos relativos a pedidos de nacionalidade portuguesa com fundamento no facto de os interessados serem descendentes de judeus sefarditas, aguardando-se agora a feitura do respetivo registo na Conservatória dos Registos Centrais”, informou à Lusa o ministério.
Alfonso Paredes, 33 anos e natural do Panamá,
foi um dos primeiros a obter a cidadania portuguesa, um momento de
“orgulho e grande realização emocional” por “ao fim de tantos anos poder
corrigir a grande injustiça feita aos judeus”.
“A minha família sempre teve consciência da
sua história e origens, mas nunca imaginámos que isto seria possível”,
contou, acrescentando que quando souberam da nova lei portuguesa
decidiram ser esta a “hipótese para corrigir o passado e poder virar a
página”.
Da família de Alfonso Paredes, que espera
visitar Portugal no início do próximo ano, quatro pessoas apresentaram o
pedido de nacionalidade: o irmão, a irmã e a mãe, Mariela Henriquez,
descendente direta do rabino de Curaçau, Eliau Abraham Lopez, e de sua
mulher Raquel Nunes da Fonseca.
“Até ao momento só aprovaram o pedido do meu
irmão mais novo mas para nós é muito importante que aprovem também a
minha irmã e a minha mãe para podermos encerrar por completo este
capítulo na nossa história familiar”, relatou.
Alfonso Paredes — que na sua genealogia tem
apelidos como Andrade, Lima, Fonseca e Pinto — foi também um dos
primeiros descendentes de judeus sefarditas a obter o reconhecimento da
Comunidade Israelita do Porto (CIP), uma das duas que pode emitir o
certificado exigido para a atribuição de nacionalidade.
Até ao momento, a CIP já emitiu “centenas” de certificados que
confirmam que o visado é descendente de judeus sefarditas portugueses e
que tem laços objetivos de pertença ao país, materializado no seu
apelido, genealogia e memória familiar.
“Temos recebido centenas de pedidos. Uma grande maioria vem da
Turquia mas também [há pedidos] de países como Israel e EUA”, assinalou
Michael Rothwell, delegado da CIP, segundo o qual há quem queira vir
morar efetivamente para Portugal, mas há muitos pedidos de nacionalidade
feitos “por uma questão de afetos”.
Para o responsável, com a atribuição da cidadania aos três primeiros
descendentes de judeus sefarditas “finalmente se fez justiça”,
destacando que “numa altura que os judeus estão a sentir dificuldades na
Europa”, são os descendentes dos que tiveram que “sair há 500 anos” que
“encontram agora em Portugal um porto seguro”.
“Os judeus que vieram para cá ao abrigo desta lei vão entrar em boas
condições e sentir-se bem em Portugal”, sublinhou Rothwell, recordando
que há muitos portugueses que “sabem que têm sangue judeu”.
A atribuição das três primeiras nacionalidades a sefarditas foi feita
no último dia de trabalhos do governo antes das eleições e, notou
Michael Rothwell, “no mesmo dia em que foram conhecidas as primeiras
nacionalidades ao abrigo da lei espanhola”.
Tal como Portugal, Espanha também já aprovou uma lei que dá a
nacionalidade espanhola aos sefarditas descendentes dos judeus que foram
expulsos em 1492, tendo o projeto de lei entrado em vigor a 1 de
outubro.
Em 1496 o rei Manuel I assinou um decreto que obrigava os judeus a
converterem-se ao cristianismo ou a sair de Portugal. Um documento igual
havia sido promulgado quatro anos antes em Espanha.
[Fonte: www.geneanet.org]
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