DE BERLIM
Quais são os limites da arte? É o que vêm perguntando os críticos
alemães sobre dois artistas famosos do país, o rapper Bushido e o
performer Jonathan Meese.
Bushido, 35, acaba de ver sua música "Stress ohne Grund" (estresse sem
motivo) entrar temporariamente para o "índex" de obras prejudiciais à
juventude.
O texto incita a violência contra homossexuais e políticos alemães,
entre eles a líder do partido verde: "Atiro em Claudia Roth e ela ganha
buracos como num campo de golfe", diz um dos versos.
Quando ficou famoso, cerca de dez anos atrás, o berlinense Bushido,
filho de pai tunisiano, tornou-se um exemplo para a integração de
imigrantes na Alemanha.
Fato é, porém, que ele sempre esteve na mira da polícia: na juventude,
por pequenos delitos; agora por envolvimento no crime organizado e por
suas declarações homofóbicas, antissemitas e machistas.
Já o pintor, escultor e artista performático Jonathan Meese, 43, está
sendo processado porque fez nas suas últimas aparições o chamado
"Hitlergruss" -a saudação nazista, com o braço direito esticado,
proibida na Alemanha. É acusado de empregar "sinais de organizações
inconstitucionais".
Meese é conhecido por suas performances caóticas e megalomaníacas, nas
quais frequentemente se ocupa de personalidades controvertidas como
Hitler, Friedrich Nietzsche e Richard Wagner. O "Hitlergruss", diz ele,
seria apenas um elemento de seu show e não uma declaração política.
Bushido e Meese não foram os primeiros artistas a passar dos limites, na
visão das autoridades. Em 1997, o diretor Christoph Schlingensief
(1960-2010) foi preso ao divulgar um cartaz, na exposição Documenta de
Kassel, contra o então chanceler do país: "Matem Helmut Kohl". E em 2008
foi a vez de Anselm Kiefer polemizar, expondo oito autorretratos com a
saudação nazista.
ROMANCE DE VERÃO
Königsallee (alameda do rei) é o nome do mais famoso boulevard de
Düsseldorf. E é o título e o palco do último romance de Hans
Pleschinski, que ali conta um episódio (fictício) da vida do escritor e
Prêmio Nobel Thomas Mann (1875-1955).
A história se passa em 1954, poucos anos depois de Mann retornar do
exílio americano à Europa. O escritor visita Düsseldorf para apresentar o
livro "Confissões do Impostor Felix Krull". E ali encontrará, para sua
surpresa, o comerciante Klaus Heuser, uma antiga paixão do final dos
anos 1920.
Pleschinski mistura ficção e não ficção (a visita de Mann a Düsseldorf e
o reencontro com Heuser não aconteceram, mas o seu antigo caso de amor,
sim), traz passagens divertidas sobre o circo montado em torno do
escritor e anotações tiradas dos diários de Thomas Mann -entre elas, as
que assumem a paixão pelo jovem 35 anos mais moço.
Também faz alusão a várias obras do escritor, sobretudo "Carlota em
Weimar" -que narra um reencontro amoroso entre Goethe e sua amada Lotta.
PRECIOSIDADES
Acaba de ser inaugurado o primeiro arquivo on-line para textos
jornalístico-literários alemães: www.waahr.de. Criado por três
jornalistas e escritores, Anne Waak, Joachim Bessing e Ingo Niemann, o
arquivo traz tanto artigos inéditos como textos antigos de publicações
já extintas.
O serviço tem também o objetivo de fomentar o jornalismo literário
alemão -na tradição do "new journalism" americano, no qual o repórter
escreve textos subjetivos, envolvendo-se com a sua história. O título
"waahr" joga com a palavra "wahr" em alemão ("verdadeiro"), sugerindo,
segundo disse Waak à Folha, uma coleção de "verdades subjetivas".
Os artigos mais antigos são do escritor Heinrich von Kleist (1777-1811).
Também se encontram textos de Marc Fischer (1970-2011), autor de
"Ho-ba-la-lá - À Procura de João Gilberto" (Companhia das Letras).
AEROPORTO
Até hoje os berlinenses não sabem o que fazer com o imenso prédio do
antigo aeroporto de Tempelhof, no centro da cidade. Desativado em 2008, o
campo com as pistas de pouso e decolagem tornou-se uma enorme área de
lazer para os habitantes da capital.
A questão agora é o destino do prédio tombado do aeroporto. Ele já vem
servindo a eventos culturais, como shows e desfiles de moda. Mas, para
continuar de pé, precisaria de uma reforma que custaria milhões de
euros.
Inaugurado no final dos anos 1920, o aeroporto de Tempelhof foi ampliado
na década de 30, transformando-se numa construção monumental, típica da
arquitetura nazista.
Ficou famoso no auge da divisão da Alemanha, no início dos anos 1960,
quando os americanos instalaram ali uma ponte-aérea para abastecer a
população de Berlim Ocidental, ilhada pelo Muro.
[Fonte: www.folha.com.br]
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