Florianópolis, a cidade geminada com Ponta Delgada, completou 286 anos no dia 23 de março.
Povoada por açorianos a partir de 1748, mantêm os traços de seus povoadores nos costumes, casarios, manifestações culturais e principalmente na feição de seus habitantes, do interior da ilha principalmente, que com muito orgulho fazem questão de mostrar suas raízes. Falo no interior da ilha porque é neste o lugar aonde a miscigenação ainda não chegou com tanta intensidade.
Seu território é do tamanho da ilha do Pico, mas sua população, 406.000 habitantes é superior a população dos Açores. O curioso é que, menos da metade dos seus habitantes não nasceram em Florianópolis, e dos que nasceram, somente uma minoria tem seus ancestrais nascidos na ilha de Santa Catarina.
Grande parte dos habitantes são pessoas de outras regiões que, em busca de qualidade de vida, escolheram como sua nova terra. Hoje nós manezinhos (1), somos minoria, sobrando para poucos a tarefa de zelar e divulgar a nossa cultura de base açoriana, assim chamada por ser um amálgama da cultura açoriana com a negra e a indígena.
Tenho muito que contar da minha terra e das coisas que temos e que nos reporta aos Açores, mas não precisamos ter pressa.
Até a década de 1940, a capital do estado de Santa Catarina, Florianópolis, ficava restrita unicamente ao território da ilha que leva o mesmo nome do estado. Por razões políticas, o município ganhou um pedaço do continente, mas é na ilha de Santa Catarina que é mais visível o orgulho de ser manezinho, quando o assunto é raízes. Embora a parte continental da minha cidade natal não seja desprezada, é para a parte insular do município, a ilha de Santa Catarina, que meu coração está voltado e por isso falo muito em ilha de Santa Catarina e pouco em Florianópolis, afinal sou um ilhéu e só ilhéu para entender um coração ilhéu.
Ponto estratégico para as navegações da época e sendo meio caminho entre o Rio de Janeiro e o Rio da Prata, esta ilha sempre foi aprazível. Já dizia Francisco Dias Velho, fundador da povoa em 1651(?), “a terra é boa e quem disser ao contrário mente”.
Os índios Carijós primeiros habitantes desta ilha consideravam um lugar sagrado, uma terra sem males e a chamavam de Meiembipe, que na língua Tupi-Guarani quer dizer “Elevação ao Longo do Rio”, ou Ijurerê-mirim que nesta mesma língua significa “Boca Pequena”, ou seja, a parte estreita da baia que forma entre a ilha e o continente.
A ilha é ligada ao continente por três pontes onde a menor delas é o ex-líbris do estado, a ponte Hercílio Luz. É uma ponte pênsil, sendo a primeira ligação ilha-continente, inaugurada em 13 de maio de 1926 e, com seus 821 m de extensão, é a única em seu gênero existente no mundo e tombada como patrimônio municipal, estadual e nacional.
Relatos de viajantes estrangeiros à ilha de Santa Catarina também dão conta de descrições elogiosas.
Em 1850 aporta em Nossa Senhora do Desterro, antigo nome da cidade, um navio vindo da Alemanha. Alguns de seus passageiros seguiriam por terra para o Vale do Rio Itajaí, distante uns 100 km ao norte. O agente alfandegário recomendou a um dos viajantes aqui desembarcados a fixar residência na ilha, o qual recusou. Ao prosseguir sua viagem, o tal agente alfandegário profetizou: “O senhor irá pagar caro por sua teimosia”. Mais de cento e sessenta anos depois da chegada deste emigrante alemão, na solenidade de aniversário da cidade de Florianópolis, ocorrida no ano passado, seu bisneto que era um dos homenageados da noite ao ler parte do diário de seu bisavô, leu sua confissão em que dizia: “O agente alfandegário tinha razão”.
A festa de aniversário da cidade sempre acontece de uma belíssima forma e nos homenageados da noite, alguns sempre chamam a atenção por um detalhe em comum, são pessoas ligadas à cultura açoriana e que assumiram o papel de verdadeiros guardiões!
Parabéns Florianópolis, parabéns povoadores açorianos que muito contribuíram para escrever a história da minha, que também é vossa terra!
(1) Manezinho da Ilha é a designação dos que nasceram na ilha de Santa Catarina (ou reconhecidamente aos que adotaram a terra de forma integral, não só com as belezas naturais mas também sua cultura) e tem nesta terra, neste povo, nestes costumes a sua filosofia de vida. É a marca viva de uma resistência cultural. Ser manezinho é um estado de espírito, é contribuir para manter viva a chama de uma cultura e uma história.
PAULO RICARDO CAMINHA
Engenheiro mecânico, manezinho da ilha
Natural de Florianópolis, Ilha de Santa Catarina, Brasil, onde reside
[Fonte: www.mundoacoriano.com]
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