sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Loja de roupas ‘Hitler’ em Moçambique remove o nome e a cruz suástica após protestos nas redes sociais

[1] Loja com nome Hitler aquando da denuncia

Escrito por Alexandre Nhampossa

Uma loja de roupas de moda na Cidade de Maputo, capital moçambicana, decidiu remover o nome “Hitler” e a cruz suástica nazista, após protestos acesos nas redes sociais criticando os proprietários pela atitude de exposição, uma acção que foi antecedida pelo bloqueio da página da loja [2] no Facebook, na sequência de denúncias de internautas.
A loja está instalada num dos maiores centros comerciais do país, o Maputo Shopping Center [3], localizado numa zona movimentada da baixa da capital moçambicana, junto ao gabinete do primeiro-ministro e de outros edifícios estatais, como o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O estabelecimento em alusão é da propriedade do empresário moçambicano Mohamed Bachir Suleman (MBS) [4], que em 2011 surgiu indiciado no tráfico de droga pelo Departamento de Segurança dos EUA.
O nome Hitler numa das lojas da propriedade de MBS, estava estampado em letras maiúsculas no vidro frontal, enquanto a suástica nazista em uma das portas, também de vidro.
A situação, descrita como ultraje pela activista social Fernanda Lobato, foi por si publicada [5] no seu mural de Facebook:
Loja com o nome HITLER e com a suástica estampada no vidro da loja. Maputo Shopping. Como permitem este ultraje?
[6] Loja com nome Hitler aquando da denuncia

A publicação não tardou a receber muitas partilhas e comentários, na sua maior parte também de indignação. Sara Lopes, internauta e residente na cidade de Maputo, por exemplo, escreveu [7]:
Eu nem entrava nessa [censurado] de loja! Mas quem é o imbecil que abre uma loja dessas com uma conotação tão racista e de um homem que defende a supremacia da raça ariana quando nem ele mesmo o era?
Por usa vez, Luisa Spusa, entende ser inaceitável questionando como isso foi possível, tendo dito [8]:
My God… my god… onde isto vai parar?? inaceitável… será que [os proprietários] não têm noção do que esse tipo de ser “humano” fez a humanidade???… Quando o dinheiro fala mais do que a dignidade humana… Quando o dinheiro vale tudo… Quando chega se a esse ponto daí ao abismo será o passo… infelizmente.
A rapper, activista social e advogada moçambicana Ivete Marlene entende [9] que a loja insultou a humanidade e que o Estado moçambicano, através do Ministério Público, deveria agir contra ela:
Um Estado com uma Constituição como a nossa não deveria nunca permitir isto! O que o fascismo fez com os negros? Quais eram os ideais do Hitler para África? Acima de tudo, o que Hitler fez a raça humana? As respostas a estas perguntas deveriam ser fundamento bastante para repudiar essa ideia comercial… Na verdade, essa loja é um insulto a nossa liberdade, moçambicanidade e nossa história por representar discriminação e genocídio a todas as raças em benefício e supremacia da raça ariana… A PGR [Procuradoria Geral da República] tem espaço para actuar aqui…não podemos aderir a Declaração Universal de Direitos Humanos por via da constituição e permitir isto de glorificar o maior genocida do mundo…
Há quem tentou sair em defesa dos proprietários da loja dizendo que provavelmente não haja nenhuma com a figura do Adolf Hitler, uma hipótese que foi ignorada por muitos internautas, como é o caso da activista Benilde Mourana [10]:
Algumas pessoas dizem que não vê problema em a loja assim se apresentar, até porque a suástica é um símbolo antigo, usado mesmo antes da entrada do regime fascista do Hitler. Pode até ser, mas, o nome associado ao símbolo para quem percebe um pouco da história há-de saber o que de facto representam, há coisas que não devem ser expostas pois põem em causa os alicerces de um Estado de direito democrático e de justiça social.
Regina Carvalheira mostrou-se [11] indignada com o facto de certamente o processo para produção e colagem do nome assim como do símbolo ter envolvido muita gente, mas mesmo assim, aparentemente, ninguém chamou atenção ao proprietário:
Realmente, neste país pode-se tudo! A quantidade de pessoas envolvidas no processo, desde a ideia do nome, o registo, quem aprovou; quem permitiu dentro do shopping, montes de pessoas e será que ninguém foi capaz de chamar à razão ao dono “disto”? And guess what? Nada vai mudar! O dono provavelmente ainda agradece esta exposição mediática.
No entanto, a exposição parece ter surtido efeito, pois dois dias depois da publicação no Facebook, os proprietários removeram, como testemunha outra publicação [12] da Nanda Lobato:
Amigos, estou sem palavras (….) O nome da loja com o nome Hitler foi apagado. O símbolo da suástica foi apagado. Viva o Estado de Direito Democrático. Viva os Direitos Humanos. Parabéns a todos nós que nos indignamos com esta situação. Fico feliz por o meu país não admitir que símbolos que dignifiquem atrocidades efectuadas à Humanidade se perpectuem aqui. E viva as redes sociais, que usadas para o bem, conseguem chamar a atenção contra atos contra os direitos humanos.
O sociólogo Edgar Cubaliwa, sugere [13] que mesmo depois da remoção do nome e do símbolo, ninguém se dirija para comprar nada a loja como forma de demonstrar o eterno repúdio:
O nome e os símbolos foram apagados. Celebremos. Contudo, podemos continuar a mandar o recado para os donos: näo esquecemos…. O nazismo saiu dos vidros mas não saiu da mente, do coração, da alma dos proprietários. E pessoas, não alimentem os discursos de desconhecimento de história por parte destes neonazistas. Esses fascistas conhecem muito bem a história, sabem o que fazem. Esse é o lado que escolheram. Agora cabe a nós sermos ou não aliados deles. Boicote.
O internauta Dinho Lima tentou sem sucesso [14] entrar em contacto com os gerentes da loja para entender as razões da colagem do nome e do símbolo. Também não esta claro se a remoção poderá ter sido influenciada pelas autoridades moçambicanas após acompanharem a indignação dos internautas.

Fotos usadas com a devida permissão do autor

Artigo  publicado em Global Voices em Português: http://pt.globalvoicesonline.org
URL do artigo: https://pt.globalvoices.org/2018/10/22/loja-de-roupas-hitler-em-mocambique-remove-o-nome-e-a-cruz-suastica-apos-protestos-nas-redes-sociais/

URLs nesta postagem:
[1] Image: https://pt.globalvoices.org/wp-content/uploads/2018/10/Screenshot_2018-10-22-Edit-Post-‹-Global-Voices-em-Português-—-WordPress.png
[2] página da loja: https://www.facebook.com/pages/category/Men-s-Clothing-Store/Hitler-We-Are-Touching-The-Peak-Of-Fashion-157758908495038/
[3] Maputo Shopping Center: http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2007/9/43/Mocambique-Centenas-acorrem-inauguracao-primeiro-mega-shopping,06a8ce04-0b55-499d-a117-1ac63d7da839.html
[4] propriedade do empresário moçambicano Mohamed Bachir Suleman (MBS): https://pt.globalvoices.org/2011/01/12/mocambique-drogas-e-segredos-publicos-expostos-no-wikileaks/
[5] publicada: https://www.facebook.com/nanda.lobato.14/posts/10155616856975825
[6] Image: https://pt.globalvoices.org/wp-content/uploads/2018/10/Screenshot_2018-10-22-Edit-Post-‹-Global-Voices-em-Português-—-WordPress1.png
[7] escreveu: https://www.facebook.com/nanda.lobato.14/posts/10155616856975825?comment_id=10155617136660825&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R%2319%22%7D
[8] dito: https://www.facebook.com/regina.carvalheira/posts/10155781195747703?comment_id=10155781426517703&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R0%22%7D
[9] entende: https://www.facebook.com/iveth.marlene/posts/10217773267947313
[10] Benilde Mourana: https://www.facebook.com/benilde.mourana/posts/2280901842137765
[11] mostrou-se: https://www.facebook.com/regina.carvalheira/posts/10155781195747703
[12] outra publicação: https://www.facebook.com/nanda.lobato.14/posts/10155618773940825
[13] sugere: https://www.facebook.com/edgar.bernardo/posts/2022043857856912
[14] tentou sem sucesso: https://www.facebook.com/nanda.lobato.14/posts/10155616856975825?comment_id=10155616886790825&reply_comment_id=10155616973065825&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R%2334%22%7D

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