Por ANDRÉ
MONTEIRO
De SÃO PAULO
Acostumados a brigar com
motoristas de carros por mais respeito e segurança no trânsito, ciclistas
encaram novos desafios com a implantação de ciclovias em São Paulo.
O plano da gestão
Fernando Haddad (PT) é instalar 400 km de pistas para bicicletas até o fim de
2015. Até agora, 20,2 km estão prontos.
A novidade tem
levado veteranos e novatos nos pedais a compartilhar as ciclovias, situação que
pode resultar em acidentes se algumas regras não forem seguidas.
"As regras
de trânsito são únicas, a bicicleta é um veículo como os outros. Então
ultrapassagem é pela esquerda e, assim como veículos mais lentos ficam à
direita, quem é inexperiente ou pedala mais devagar, também deve ficar à
direita na ciclovia", diz Cleber Anderson, 47, autor do primeiro manual de
ciclismo urbano da cidade.
Ele afirma que conflitos
observados quando a ciclofaixa de lazer foi implantada podem aparecer nas
ciclovias. Um dos problemas, diz, é quando dois ciclistas ficam lado a lado, o
que limita o espaço de ultrapassagem.
Para André
Pasqualini, 40, ciclista e consultor de mobilidade, os problemas na ciclofaixa
de lazer ocorrem com quem usa a bike por esporte.
"Quem usa a
ciclovia encara como transporte. Então iniciante ou experiente, todos se ajudam
porque sabem que só vão melhorar as condições se mais gente começar a pedalar
no dia a dia", diz.
Pasqualini vê o
pedestre como principal fator de acidentes. "Se a calçada é ruim, o
pedestre vai usar a ciclovia. No centro tem muita gente andando nas ciclovias
por causa da calçada não estar legal."
Além da atenção
com as calçadas, os cicloativistas defendem mais campanhas educativas,
inclusive nas escolas perto das novas ciclovias, para melhorar o quadro.
"Como o
Brasil é um país quase sem nenhum cultura ciclística, problemas vão aparecer e
crescer. Mas com o tempo acredito que haverá mais respeito de todos os
lados", diz Anderson.
Tadeu Duarte,
diretor de planejamento da CET (Companhia de Engenharia de Pedestres), afirma
que novas campanhas estão sendo planejadas junto com a expansão das ciclovias.
Diz ainda que ajustes serão feitos onde forem detectados problemas.
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Pessoas não respeitam as ciclovias em São
Paulo, diz dinamarquês
Por VANESSA
CORREA
De SÃO PAULO
Aos dez anos, Jimmy Olsen, 36, já
pedalava para ir à escola. Desde então, a bicicleta sempre foi seu meio de
transporte principal, assim como o da maior parte dos cidadãos da cidade onde
nasceu: a capital mundial da bicicleta, Copenhague.
Há quatro anos em
São Paulo, Jimmy seguiu com o hábito. De casa, no Sumarezinho (zona oeste),
para o trabalho, no consulado da Dinamarca (nos Jardins), ele sempre preferiu
pedalar.
Na sexta-feira, a
convite da Folha,
ele percorreu de bicicleta a ciclovia do centro, que faz parte da primeira leva
implantada pela gestão Fernando Haddad (PT). Leia seu relato abaixo.
Desrespeito
As pessoas não
respeitam [a ciclovia]. Vários pedestres paravam em cima ou caminhavam por ela.
Carros invadiam ou paravam em cima, esperando para entrar em garagens. Tive que
ultrapassar fora da faixa ou esperar.
Em uma parte,
três pessoas conversavam na via. Fizeram piada: "é a segunda bicicleta
hoje". Foi engraçado, mas parece que estão pensando: "bicicleta, mas
o que é isso?"
Três ciclistas
pegaram a contramão. Uma moto ultrapassou os carros usando a ciclovia. Mas não
senti uma atitude hostil dos motoristas, ao contrário. Quando viam a uma
bicicleta, eram mais respeitosos do que agressivos.
Em Copenhague,
são os ciclistas que ficam agressivos, é quase uma guerra. Não respeitam
sinais, pedalam na calçada. Lá é a cultura da bicicleta, ela é quem manda.
Estrutura
Acho que ainda
não tem estrutura, é só um começo. Uma parte da ciclovia acabou numa rua e tive
que pedalar entre os carros. Num dos primeiros trechos, na Barra Funda [zona
oeste], faltavam alguns semáforos para ciclista. Foi confuso, eu não sabia
quando podia voltar a pedalar.
O espaço para uma bicicleta é
suficiente por enquanto. Mas, quando mais bicicletas chegarem, não vai dar para
ultrapassar. Aqui a ciclovia é de mão dupla. Em Copenhague só tem mão única.
Cultura
Eu me senti
seguro, porque tenho experiência. Para quem não tem, é perigoso. Ainda não vou
deixar minha filha andar aqui. São Paulo não tem uma cultura da bicicleta.
Acho bom que
começou, foi bem feito. Mas ainda tem muita coisa a fazer. Acho que vai demorar
para a bicicleta se tornar um meio de transporte, mas estou vendo cada vez mais
pessoas usando.
Região da República
Foi interessante
passar por ali, fui em muitos lugares que não conhecia. Andar de carro [na
região central] é ruim demais. De bicicleta dá para ver muita coisa, é mais
fácil de acessar os lugares. Achava o centro meio sem graça, agora achei muito
mais interessante.
Entregas de bicicleta
Nessa ciclovia do
centro, os ciclistas estavam meio devagar. É normal, porque a maioria estava
carregando coisas. Mas também não seria justo comparar, porque eu já ando de
bicicleta há mais de 30 anos, ando meio rápido.
Normalmente
pedalo por aqui a 20 ou 30 km/h, em Copenhague, a 30 km/h.
Tínhamos entregas
de bicicleta na Dinamarca. Os supermercados entregavam em casa, mas hoje tem
pouco.
[Fonte: www.folha.com.br]
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