segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Com aumento de ciclovias, novatos são desafio para veteranos em SP

Por ANDRÉ MONTEIRO
De SÃO PAULO

Acostumados a brigar com motoristas de carros por mais respeito e segurança no trânsito, ciclistas encaram novos desafios com a implantação de ciclovias em São Paulo.

O plano da gestão Fernando Haddad (PT) é instalar 400 km de pistas para bicicletas até o fim de 2015. Até agora, 20,2 km estão prontos.

A novidade tem levado veteranos e novatos nos pedais a compartilhar as ciclovias, situação que pode resultar em acidentes se algumas regras não forem seguidas.

"As regras de trânsito são únicas, a bicicleta é um veículo como os outros. Então ultrapassagem é pela esquerda e, assim como veículos mais lentos ficam à direita, quem é inexperiente ou pedala mais devagar, também deve ficar à direita na ciclovia", diz Cleber Anderson, 47, autor do primeiro manual de ciclismo urbano da cidade.

Ele afirma que conflitos observados quando a ciclofaixa de lazer foi implantada podem aparecer nas ciclovias. Um dos problemas, diz, é quando dois ciclistas ficam lado a lado, o que limita o espaço de ultrapassagem.

Para André Pasqualini, 40, ciclista e consultor de mobilidade, os problemas na ciclofaixa de lazer ocorrem com quem usa a bike por esporte.

"Quem usa a ciclovia encara como transporte. Então iniciante ou experiente, todos se ajudam porque sabem que só vão melhorar as condições se mais gente começar a pedalar no dia a dia", diz.

Pasqualini vê o pedestre como principal fator de acidentes. "Se a calçada é ruim, o pedestre vai usar a ciclovia. No centro tem muita gente andando nas ciclovias por causa da calçada não estar legal."

Além da atenção com as calçadas, os cicloativistas defendem mais campanhas educativas, inclusive nas escolas perto das novas ciclovias, para melhorar o quadro.

"Como o Brasil é um país quase sem nenhum cultura ciclística, problemas vão aparecer e crescer. Mas com o tempo acredito que haverá mais respeito de todos os lados", diz Anderson.

Tadeu Duarte, diretor de planejamento da CET (Companhia de Engenharia de Pedestres), afirma que novas campanhas estão sendo planejadas junto com a expansão das ciclovias. Diz ainda que ajustes serão feitos onde forem detectados problemas. 
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Pessoas não respeitam as ciclovias em São Paulo, diz dinamarquês

Por VANESSA CORREA
De SÃO PAULO


Aos dez anos, Jimmy Olsen, 36, já pedalava para ir à escola. Desde então, a bicicleta sempre foi seu meio de transporte principal, assim como o da maior parte dos cidadãos da cidade onde nasceu: a capital mundial da bicicleta, Copenhague.

Há quatro anos em São Paulo, Jimmy seguiu com o hábito. De casa, no Sumarezinho (zona oeste), para o trabalho, no consulado da Dinamarca (nos Jardins), ele sempre preferiu pedalar.

Na sexta-feira, a convite da Folha, ele percorreu de bicicleta a ciclovia do centro, que faz parte da primeira leva implantada pela gestão Fernando Haddad (PT). Leia seu relato abaixo.

Desrespeito
As pessoas não respeitam [a ciclovia]. Vários pedestres paravam em cima ou caminhavam por ela. Carros invadiam ou paravam em cima, esperando para entrar em garagens. Tive que ultrapassar fora da faixa ou esperar.

Em uma parte, três pessoas conversavam na via. Fizeram piada: "é a segunda bicicleta hoje". Foi engraçado, mas parece que estão pensando: "bicicleta, mas o que é isso?"

Três ciclistas pegaram a contramão. Uma moto ultrapassou os carros usando a ciclovia. Mas não senti uma atitude hostil dos motoristas, ao contrário. Quando viam a uma bicicleta, eram mais respeitosos do que agressivos.

Em Copenhague, são os ciclistas que ficam agressivos, é quase uma guerra. Não respeitam sinais, pedalam na calçada. Lá é a cultura da bicicleta, ela é quem manda.

Estrutura
Acho que ainda não tem estrutura, é só um começo. Uma parte da ciclovia acabou numa rua e tive que pedalar entre os carros. Num dos primeiros trechos, na Barra Funda [zona oeste], faltavam alguns semáforos para ciclista. Foi confuso, eu não sabia quando podia voltar a pedalar.

O espaço para uma bicicleta é suficiente por enquanto. Mas, quando mais bicicletas chegarem, não vai dar para ultrapassar. Aqui a ciclovia é de mão dupla. Em Copenhague só tem mão única.

Cultura
Eu me senti seguro, porque tenho experiência. Para quem não tem, é perigoso. Ainda não vou deixar minha filha andar aqui. São Paulo não tem uma cultura da bicicleta.

Acho bom que começou, foi bem feito. Mas ainda tem muita coisa a fazer. Acho que vai demorar para a bicicleta se tornar um meio de transporte, mas estou vendo cada vez mais pessoas usando.

Região da República
Foi interessante passar por ali, fui em muitos lugares que não conhecia. Andar de carro [na região central] é ruim demais. De bicicleta dá para ver muita coisa, é mais fácil de acessar os lugares. Achava o centro meio sem graça, agora achei muito mais interessante.

Entregas de bicicleta
Nessa ciclovia do centro, os ciclistas estavam meio devagar. É normal, porque a maioria estava carregando coisas. Mas também não seria justo comparar, porque eu já ando de bicicleta há mais de 30 anos, ando meio rápido.

Normalmente pedalo por aqui a 20 ou 30 km/h, em Copenhague, a 30 km/h.

Tínhamos entregas de bicicleta na Dinamarca. Os supermercados entregavam em casa, mas hoje tem pouco. 


[Fonte: www.folha.com.br]

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