Por FÁBIO
TAKAHASHI
Na tentativa de
contornar o déficit de professores de medicina, os novos cursos previstos no
programa federal Mais Médicos aceitarão mais docentes que não fizeram mestrado
ou doutorado.
O novo formato de
concurso valerá para as universidades federais. Segundo o projeto
recém-finalizado pelo governo, esses novos professores farão a pós-graduação ao
mesmo tempo em que dão aulas aos alunos da graduação.
O Ministério da
Educação afirma que os cursos com esses docentes terão qualidade, pois os
professores sem pós-graduação estarão ao lado de outros mais experientes e sob
supervisão.
Já o Conselho
Federal de Medicina diz que há o risco de esse corpo docente formar médicos
"desqualificados".

O governo Dilma Rousseff (PT) pretende aumentar em 65% o
número de vagas em medicina até 2017, sob o argumento de que faltam
profissionais formados na área.
Antes dessa expansão, a regra geral nas universidades
federais era contratar docentes com mestrado ou doutorado –80% dos professores
de medicina possuem hoje uma dessas pós-graduações.
O mestrado e o doutorado visam dar base ao professor para
que ele saiba como ensinar e fazer pesquisa.
Ainda não está definida qual será a proporção de docentes
com formação em pós-graduação nos novos concursos, mas o próprio Ministério da
Educação dá como certo que será menor.
A explicação é que as novas
vagas estarão concentradas onde não há cursos de medicina, ou seja, com poucos médicos para
lecionar.
E que mesmo antes da expansão já há dificuldade de contratar
esses docentes, mesmo em regiões desenvolvidas (cinco dos nove últimos
concursos docentes nas federais em São Paulo terminaram sem aprovados).
Secretário de Educação
Superior do ministério, Paulo Speller afirma que os cursos começarão com
"alguns poucos mestres e doutores".
Com a formação simultânea dada aos docentes sem
pós-graduação, diz o representante do
governo, "vai se formando massa docente ao longo do
tempo". Um mestrado dura, em média, dois anos.
A formação desses professores será em instituições de ensino superior próximas que
possuam mestrado ou doutorado, por meio de atividades presenciais e a
distância.
"Precisamos considerar que
esse novo professor é um médico, que talvez continue com suas atividades e
ainda precisa lecionar", diz Speller. Inicialmente haverá centros de
formação dos docentes em PE, BA, MA, RS e MG.
Medida visa fixar
médicos em regiões carentes, afirma governo.
Ao mesmo tempo em que busca aumentar o número de professores universitários, o
governo federal visa fixar médicos em regiões carentes.
Essa fixação ocorrerá justamente porque os concursos para
docentes das novas vagas de medicina não exigirão títulos de pós-graduação,
afirma o Ministério da Educação.
Nesses novos cursos, localizados em áreas carentes, médicos
que atuam na região (e que não se formaram mestres ou doutores) poderão entrar
como docentes.
Esse médico, além de passar a ser um professor
universitário, poderá também fazer uma pós-graduação. Os cursos serão gratuitos
ou haverá bolsas federais.
"Você traz médicos da região, que conhecem a região,
que têm interesse na docência, e vai fazendo a formação na própria
região", afirmou o secretário da Educação Superior do Ministério da
Educação, Paulo Speller.
A fixação de médicos em áreas carentes é o principal
objetivo do programa federal
Mais Médicos.
Segundo dados do governo,
o país tem menos médicos por habitantes do que a Argentina e o Uruguai. E 22
Estados estão abaixo da média brasileira. Amapá, Maranhão, Pará e Piauí têm
menos da metade dessa média.
Estão acima do patamar brasileiro apenas São Paulo, Rio,
Espírito Santo, Rio Grande do Sul
e Distrito Federal.
CRÍTICAS
O Conselho Federal de Medicina discorda de todo o programa
do governo federal.
Contesta, primeiro, que seja necessário aumentar o número de cursos na área.
A entidade se baseia em estimativas que apontam que o número
atual de médicos é suficiente, pois o crescimento populacional no país tem
desacelerado nos últimos anos –o que reduz a demanda por médicos.
"A abertura de cursos visa apenas a satisfação dos empresários",
disse Carlos Vidal, vice-presidente do conselho. Parte da expansão será em
faculdades privadas.
Especificamente sobre a decisão de aceitar mais professores
sem mestrado ou doutorado nas federais, Vidal afirma que a medida acarretará a formação de "médicos
desqualificados".
Ele ressalta que o próprio Ministério da Educação aumenta em
suas avaliações a pontuação dos cursos que possuem mais doutores e mestres.
"Eles mesmos consideram importantes esses títulos. Por que a lógica não
valeria para os novos cursos?"
Para Vidal, "o título de mestre e de doutor é a
garantia de que aquele professor sabe lecionar e pesquisar".
ÁREAS CARENTES
O conselho também vê como ineficaz a estratégia do governo para fixar médicos em
regiões carentes.
Uma das principais ações da presidente Dilma Rousseff é
abrir cursos nas áreas com poucos profissionais. Também contratou profissionais
estrangeiros.
"O que fixará médicos nessas regiões é boa carreira e
condições de trabalho", disse o vice-presidente do conselho.
[Ilustração: Editoria de Arte - fonte: www.folha.com.br]
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