Por BERNARDO MELLO FRANCO
A ofensiva do governo britânico para limitar o acesso de estrangeiros a
benefícios sociais reacendeu o temor de que os imigrantes virem bodes
expiatórios da crise econômica na Europa.
A medida segue os exemplos da Espanha, que no fim do ano passado impôs
barreiras no atendimento em hospitais, e da Grécia, que ergueu uma cerca
de arame farpado na fronteira com a Turquia.
Em outros países em dificuldades, como França e Itália, os governos
tentam resistir à pressão de partidos que ganham força ao discursar
contra a União Europeia e a favor de controles mais rígidos à circulação
de pessoas.
No Reino Unido, críticos acusam o primeiro-ministro David Cameron, do
Partido Conservador, de apostar na repressão aos imigrantes como fórmula
para recuperar popularidade nas pesquisas.
Manifestação em Atenas contra a política do governo grego para auxílio aos imigrantes |
O pacote que ele anunciou na última segunda-feira também vai dificultar a
vida de estrangeiros com permissão para viver e trabalhar no país, que
terão menos acesso a benefícios como seguro-desemprego e saúde pública.
"Existe um risco claro de os estrangeiros levarem a culpa pela crise",
disse à Folha Jonathan Portes, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa
Econômica e Social (NIESR, na sigla em inglês).
"Do ponto de vista econômico, as medidas são desnecessárias, porque
estudos mostram que os imigrantes pedem menos benefícios ao governo do
que os trabalhadores nascidos no Reino Unido. Mas o tema cresceu na
agenda política e será importante nas eleições de 2015."
A tese de que os estrangeiros sobrecarregam o Estado de bem-estar social
britânico é contestada pelo Instituto de Estudos Fiscais (IFS), que
afirma que os trabalhadores vindos do leste europeu pagam mais em
impostos do que recebem em benefícios.
De acordo com a instituição, a probabilidade de um desses imigrantes
pedir ajuda ao governo é 59% menor do que a de um britânico.
Outro estudo, recém-concluído na Universidade da Europa Central de
Budapeste, diz não haver ligação entre a oferta de seguro-desemprego e
os movimentos migratórios no continente.
Pesquisadores compararam dados de 19 países. Dinamarca, Bélgica e
Finlândia são os que mais pagam o benefício, mas não estão entre os
destinos mais procurados.
PESQUISAS
Apesar dos números, o discurso de Cameron contra o que ele chama de
"turismo de benefícios" ganha cada vez mais força no Reino Unido.
A limitação ao acesso de estrangeiros a hospitais, por exemplo, é
defendida por 75% da população, segundo pesquisa do instituto YouGov. Já
86% são a favor de banir benefícios para estrangeiros recém-chegados ao
país.
O Partido Trabalhista também tem endurecido o discurso contra os
imigrantes. Em janeiro, o líder Ed Miliband disse que a sigla foi omissa
na questão e defendeu a ideia de restringir o acesso à rede de proteção
social.
Com a oposição em silêncio, a tarefa de criticar o governo tem sobrado para clérigos da Igreja Anglicana.
Em entrevista ao jornal "The Observer", o bispo de Dudley, David Walker,
acusou os partidos políticos de fazerem críticas "absolutamente
desproporcionais" aos gastos com os imigrantes.
"É especialmente lamentável que na Semana Santa, quando os cristãos
lembram como Jesus virou bode expiatório de uma disputa política, nós
tenhamos que ver os políticos competindo entre si em torno dessa
questão."
Sem comentários:
Enviar um comentário