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Quase dez
anos passaram desde que uma discreta rua
no Cais do Sodré foi pintada de cor-de-rosa e o seu nome
oficial passou a estar entre parêntesis, ultrapassado pela fama que a
novidade rapidamente trouxe à zona. Agora que a covid-19 serve de pretexto
para aumentar os espaços pedonais na cidade, as ruas coloridas vão
multiplicar-se por Lisboa.
A
Rua dos Bacalhoeiros foi a primeira. Durante o fim-de-semana, por delegação da
câmara, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior pintou de azul uma parte
desta artéria entre o Campo das Cebolas e a Rua da Madalena que está
parcialmente fechada ao trânsito há quase dois anos.
As muitas reacções negativas nas redes sociais, sobretudo à escolha da
cor, levaram o presidente da junta, Miguel Coelho, a emitir um comunicado em
que garante que seguiu a proposta cromática que lhe fez a câmara municipal e
que, caso as zonas pedonais sejam para manter, virão a ter calçada portuguesa.
Na
freguesia, mais outras duas ruas serão pedonalizadas nas próximas semanas: a
Rua Nova da Trindade, no Chiado, e a Rua João das Regras, perto da Praça da
Figueira. No fim do ano, escreve o autarca, “far-se-á uma avaliação desta
experiência, decidindo-se após isso pela sua manutenção, ou não, como espaço
pedonal.”
Para os
comerciantes da Rua dos Bacalhoeiros não há dúvidas na escolha. “Isto era um
pedido que fazíamos há muito tempo à câmara”, diz José Marques, dono do
restaurante Maria Catita. Apesar de a rua não ter saída para o Campo das
Cebolas, muitos automobilistas aproveitavam o facto de ali não se pagar
estacionamento para deixar o carro. “As pessoas exageravam sempre e
estacionavam arbitrariamente”, descreve o empresário.
Agora, sem
carros, vai poder ter esplanada. E este foi um dos principais motivos que levou
a câmara a avançar com o programa “A
Rua é Sua”, que vai tirar o trânsito e o estacionamento automóvel de quase 100
ruas de forma permanente ou temporária. Para o presidente da junta
trata-se de uma “forma de se contribuir para combater a profunda crise, que
atinge em particular a restauração e afins no centro histórico, com graves e
imediatas consequências na perda de dezenas ou centenas de postos de trabalho”.
Mário
Mateus, gerente da Churrascaria Gaúcha, um dos restaurantes mais antigos da
rua, afirma que “o espaço está subaproveitado” e que era preciso “fazer
qualquer coisa”. Os clientes da hora de almoço já lhe perguntaram se vai montar
uma esplanada lá fora. Ainda não decidiu, mas está convicto de que foi “uma
decisão boa” dar “uma imagem diferente” à rua.
Belém, Chiado, Sapadores: mais ruas coloridas
A
intervenção na Rua dos Bacalhoeiros é apenas uma das muitas que a Câmara de
Lisboa projectou para os próximos meses. Uma fonte municipal diz ao PÚBLICO que
a pintura do asfalto “é uma forma muito expedita de assinalar o fecho das ruas”
e que vai ser replicada noutros locais.
É o caso
da Rua Nova da Trindade, no Chiado, que vai ficar sem tráfego e também será
pintada de azul; da Rua de Belém, com aumento de passeios com recurso à mesma
tinta; da Avenida da Igreja, onde uma parte será fechada ao trânsito aos fins
de semana e o chão terá uma “inscrição artística”; ou da Rua da Penha de
França, no troço junto ao Mercado de Sapadores, que também fica exclusivamente
para peões.
A fonte
autárquica com quem o PÚBLICO falou não soube justificar a opção pela tinta
azul na Rua dos Bacalhoeiros e disse que noutras ruas poderão ser usadas outras
cores. Em Cascais, por exemplo, a câmara decidiu pintar de amarelo três ruas do
centro histórico da vila.
Algumas
cidades, como Doha, no Qatar, ou Los Angeles, nos Estados Unidos, pintam
estradas com cores claras (azul ou branco, por exemplo) para diminuir as
temperaturas circundantes, uma vez que o alcatrão, deixando de ser negro, deixa
também de absorver tanto calor. A Câmara de Lisboa ainda não apresentou a lista
definitiva de todos os locais que vão ser intervencionados, nem qual será a
obra realizada, mas na apresentação que fez do “A Rua é Sua”, há um mês,
Fernando Medina disse que um dos objectivos era “mitigar as ondas de calor”.
José
Marques, do restaurante Maria Catita, diz não saber porque foi escolhida a cor
azul, mas até gosta. “Para nós faz algum sentido. Estamos na Rua dos
Bacalhoeiros, assim até faz lembrar o mar”, brinca.
[Foto: DANIEL ROCHA - fonte: www.publico.pt]
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