quarta-feira, 13 de julho de 2016

Eva & John, um ruído peruano

Trocando em Miúdos: Mesclando noise, surf rock e shoegaze, Eva & John criaram músicas incríveis e ganharam ares de banda cult na cena de rock do Peru. No “Radar”, Eva & John.


Por Alejandro Mercado

A história da música (e da cultura de maneira geral) guarda alguns grupos e/ou artistas que caíram nas graças do público, ganharam fãs, compuseram hinos, receberam ares de bandas/artistas cult e, ainda assim, não tiveram muitos de seus sucessos registrados em álbuns, filmagens e mesmo fotos.
Certamente, isso era um fenômeno mais comum antigamente, quando máquinas eram escassas e smartphones não eram nem perto de ser realidade. Entretanto, volta e meia aparece um grupo que resgata essa coisa um tanto nostálgica de reservar sua mágica artística para os palcos. Um dos grandes exemplos latino-americanos vem de Lima, capital do Peru. O quarteto Eva & John vem ganhando cada vez mais espaço fazendo seu noise com elementos de surf rock e shoegaze, acrescentando ares de banda cult ao seu currículo ao ver suas canções tornarem-se verdadeiros hinos.
São apenas dois EPs gravados, César Gutiérrez Flexi Single e Los Días, o mais recente, que somados chegam a marca de apenas cinco canções registradas. “Não planejamos gravar um disco completo no momento”, me contam os músicos peruanos. “Quem sabe no futuro lancemos um LP com 8 ou 10 músicas novas”, completam.
De um jogo de palavras chegaram ao nome da banda, uma versão peruana e musical para uma espécie de Bonnie & Clyde. No caso da Eva & John, Eva faz menção à cantora de música criolla Eva Ayllón, indicada quatro vezes ao Grammy Latino de melhor álbum folclórico, uma grande amiga e companheira de palco da argentina Mercedes Sosa.
A combinação de distorções e suavidade do grupo reflete muito bem uma nova geração de fãs e artistas que agregam romantismo, euforia, amor e fúria. Os 6 anos de Eva & John também foram marcados por algumas mudanças, em especial na formação do grupo. Hoje, Daniel, Manuel, Carlos e Muriel dão prosseguimento ao sonho de José, ex-baixista do grupo e responsável por juntar os músicos que deram cara à primeira formação da banda.
Daniel, Manuel, Carlos e Muriel, integrantes da Eva & John.
Mas nem mesmo essa idolatria em cima do grupo foi capaz de permitir que vivessem apenas de música. “A música é um complemento ao que somos e fazemos. Tocamos pouco ao vivo, e algumas vezes nós mesmos organizamos os eventos com bandas amigas”. E desses eventos o grupo tira o dinheiro para cobrir gastos com ensaios, transporte e consumo, além de pagar pela participação dos demais grupos. “Não reclamamos sobre a falta de apoio. Aqui é assim, os bares e casas de shows preferem ter suas sextas e sábados com música dançante ou bandas que tocam covers, porque o público comparece e eles ganham dinheiro, afinal é o seu negócio”, complementam.
Aos leitores que acompanham esta coluna, fica visível o quanto os problemas para grupos independentes nos países vizinhos são semelhantes aos nossos. Falta de espaço nos veículos de imprensa (ao menos nos hegemônicos), pouco público, sem lugares e/ou festas para se apresentar, etc. “Ainda existe muito pouca divulgação das bandas locais nos meios de comunicação como rádio e TV. Mas isso vai crescer à medida que os jovens passem a se interessar pela nova música que se faz por aqui”, afirmam os integrantes.




‘LOS DÍAS’, CANDIDATO A DISCO CULT
É impossível não se encantar pelos riffs ruidosos do grupo e a descarga de ironia em canções como “César Gutiérrez”, presente no single lançado em 2013. Em Los Días, o grupo, mais maduro, apresenta novas camadas referenciais, em especial uma inspiração no surf rock dos anos 60. A própria faixa-título, “Los Días”, é um abraço em referências do grupo, como The Velvet Underground e Jesus & Mary Chain. A distorção e o reverb somados criam uma atmosfera única, uma espécie de paisagem sonora crua.



[Fotos: Alicia Slater / Minúscula - fonte: www.aescotilha.com.br]

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