sábado, 8 de abril de 2017

Obra de arte saqueada por nazistas é devolvida a herdeiro de homem judeu - Quadro do pintor Max Liebermann foi confiscado da casa de David Friedmann em 1939

Em uma parede branca vazia em um escritório de advocacia de Jerusalém, uma obra de arte impressionista pendurada guarda 80 anos de tragédia, conflito, mistério e redenção.

Meir Heller, advogado em Jerusalém, prepara quadro que será enviado para os Estados Unidos

Escrito por /AP

O quadro "Basket Weavers", de Max Liebermann, está pronto para retornar aos herdeiros americanos de seu proprietário original, judeu, depois que foi confiscado pelos nazistas, vendido por um comerciante inescrupuloso e, finalmente, comprado por um sobrevivente do Holocausto israelense que desconhecia o seu passado obscuro.

Depois de uma negociação marcada pelas emoções, a valiosa tela agora está sendo enviada aos Estados Unidos, em um acordo que o advogado envolvido no trato chamou de uma conclusão apropriada para uma saga que colocou dois sobreviventes do Holocausto um contra o outro — e expôs uma das persistentes feridas da campanha alemã para aniquilar os judeus da Europa e roubar seus pertences.

Meir Heller, o advogado de Jerusalém cujo cliente israelense insiste em manter seu anonimato, disse que ambos ficaram aliviados por finalmente terem fechado este círculo histórico.

Este não era um caso legal que eu queria ganhar porque não seria uma vitória para qualquer um dos lados ou para os interesses do povo judeu — disse Heller. — Estou feliz por termos chegado a um acordo com todas as emoções e todas as bagagens envolvidas.

O advogado Peter Toren, com sede em Washington, disse que seu pai David, de 91 anos, estava ansioso para receber a pintura, mas classificou a situação como "agridoce", uma vez que o idoso se tornou cego e não poderá desfrutar da sua beleza.

Ele vive de emoções mistas, porque ele ainda abriga, compreensivelmente, muito ressentimento e raiva para com os alemães — contou Toren. — Uma pintura certamente não pode compensar isso.

'ARTE DEGENERADA'

Etiqueta identifica a pintura de Max Liebermann 
O conto começou em 1939, quando o rico industrial judeu e colecionador de arte David Friedmann foi forçado a fugir, e os nazistas saquearam a vasta coleção que ele deixou para trás. Muitos dos trabalhos terminaram nas mãos de Hildebrand Gurlitt, um notório negociante de arte alemão que vendia o que os nazistas chamavam de arte degenerada — obras consideradas inferiores por serem não alemãs, judias ou comunistas ou, como é o caso dos impressionistas e de outras obras modernistas, não empregavam formas tradicionalmente realistas — mas estavam satisfeitos em vender para ajudar a financiar sua máquina de guerra.

A maior parte da coleção de Gurlitt permaneceu escondida por décadas, e especialistas temiam que as peças teriam sido perdidas ou destruídas. Mas em uma descoberta chocante, uma vasta horda ressurgiu em 2012, quando as autoridades alemãs invadiram um apartamento de Munique pertencente a seu filho Cornelius, enquanto o investigavam por evasão fiscal.

Pinturas de artistas como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir e Henri Matisse foram descobertos. Cornelius Gurlitt disse que tinha herdado muito da arte de seu pai.

O recluso Cornelius Gurlitt manteve mais de 1.200 obras em seu apartamento em Munique e mais 250 em Salzburgo, na Áustria. A descoberta jogou uma nova luz para os muitos casos não resolvidos de peças de arte saqueadas de judeus que nunca foram devolvidas aos proprietários originais ou seus descendentes.

Quando há um plano para o genocídio, então é O.K. roubar e saquear. Existe um completo desrespeito por quaisquer direitos individuais — disse Yehudit Shendar, uma vice-diretora aposentada do Museu do Holocausto Yad Vashem em Jerusalém. — Toda a questão do roubo de arte está diretamente relacionada com o fato de que seus proprietários estavam destinados à destruição.


[Fotos: Ariel Schalit / AP - fonte: www.oglobo.globo.com]




Sem comentários:

Enviar um comentário