Por Renelle Millette, aluna do PPE em 2001
Ainda hoje, de tempos em tempos, alguém me pergunta: “Foi difícil
aprender português?”, e assim, repentinamente, na pausa do
meu interlocutor, não sei o que dizer. Pois há onze anos, logo que
comecei a tropeçar pelas ruas de pedra do centro de Porto Alegre e me
perder nos corredores do Câmpus do Vale da UFRGS, entendi que
tinha muito mais do que uma nova língua em jogo. No meio de novos
gestos, rostos, hábitos, pratos, sons e cheiros, eu estava em jogo
também.
Menos mal então que tinha a equipe do PPE. Numa sala simples e
pequena encontrei um núcleo de grandes mulheres, simpáticas e
companheiras. E a mais miúdinha de todas logo se revelou como a maior
matriarca: a Margarete Schlatter, junto com suas bolsistas, tornou-se
uma referência não apenas de língua, mas de segurança, de respostas,
de carinho. Isso foi fundamental, pois nem o português nem os dias eram
sempre iguais: às vezes, as aulas eram fáceis, outras, nem tanto; havia
dias em que Porto Alegre era tudo de bom e outros em que as lembranças
de outra terra seduziam o coração.
Mas havia uma constante: nunca deixei de aprender. Aprendi a conjugar
verbos, abraçar não apenas amigos, beijar direto na bochecha,
tomar chimarrão sem mexer na bomba, abreviar para chima e ceva, chamar
dinheiro de pila e as meninas de as guria, ver novela, enunciar bah na
nota apropriada e empregar o tri quando queria exagerar.
Onze anos depois, continuo em Porto Alegre, trabalhando, estudando e
vivendo. E recorrendo à bela dádiva que o português me
proporciona sempre que alguém me pergunta algo que não tem resposta, do
tipo “Por que estamos aqui?” ou se foi difícil aprender português.
Digo “Pois é…”, tranquila na certeza de que, nessa frase vaga, a
resposta certa está dada.
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