"Há um paradoxo: o pragmatismo de Lula permitiu que ele fosse eleito duas vezes, mas descaracterizou o PT", afirma a psicanalista Maria Rita Kehl à reportagem do jornal francês.
ABr
Protestos de junho
Paris - "A ebulição social de junho mostrou a desilusão da juventude brasileira com o Partido dos Trabalhadores", escreve o repórter Paulo Paranaguá na edição do vespertino Le Monde, ques estará nas bancas nesta quarta-feira (4). E diz que que mesmo a geração que fundou o partido e lutou contra a Ditadura Militar entre 1964 e 1985 criou suas reservas conforme o PT perdeu suas bandeiras mais preciosas: "a honestidade e a integridade", noticia a rádio francesa RFI.
A alusão é ao escândalo do mensalão, que estourou no segundo mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva e nivelou a sigla com as outras, acabando com a esperança de novos tempos trazida pelas eleições de 2002.
"Há um paradoxo: o pragmatismo de Lula permitiu que ele fosse eleito duas vezes, mas descaracterizou o PT", afirma a psicanalista Maria Rita Kehl à reportagem do jornal francês.
"Elogia-se a capacidade de negociação de Lula enquanto se critica sua aversão a confrontar o mercado financeiro e o agronegócio", segue o texto. "E deplora-se a pouca disposição de sua sucessora (Dilma Rousseff) ao diálogo, inclusive com os movimentos sociais de esquerda", critica o jornal, antes de classificar o partido como uma "máquina eleitoral".
É exatamente à máquina, aliás, que remetem as aspas do filósofo Vladimir Safatle, também entrevistado pela matéria: "O PT não tem mais criatividade, não é mais um laboratório de ideias e não atrai mais os intelectuais. A deriva por que passaram os partidos socialistas europeus em quarenta anos, o PT viveu em dez", afirma o professor. A conclusão de Safatle, tão evidente quanto original, é que "uma reconfiguração da esquerda e da direita é inexorável".
[Fonte: www.portugaldigital.com.br]
Sem comentários:
Enviar um comentário