Escrito por Maria do Rosário Pedreira
Estava eu a escrever a palavra «velado» quando pensei logo que ela implica algo que está escondido, coberto por um véu (uma mulher velada, uma história abordada veladamente...). Porém, todos sabemos que o prefixo «re-» implica repetição (reler é ler mais de uma vez, por exemplo); e, assim, fez-me uma certa espécie que «revelar» não quisesse dizer que uma coisa está ainda mais velada e escondida do que é normal (que tem mais de um véu), mas justamente o contrário, ou seja, a mesmíssima coisa que «desvelar», que usa o elucidativo prefixo «des-» (que, como toda a gente sabe, é de negação, como em «desfazer» ou «desatar»).
A nossa língua está cheia destas singularidades; e, consultando o querido Dicionário Houaiss, apareceu-me então «velar» com o sentido de «estar alerta», de «vigiar», atitude absolutamente necessária quando «velamos» um doente, por exemplo; e, efectivamente, precisamos muito de estar alerta para podermos «descobrir» alguma coisa (e «descobrir» é também tirar aquilo que cobre, tirar o véu), que é o que significa o verbo latino que está de facto na origem da palavra «revelar».
Se pensarmos bem, a revelação da fotografia é, no fundo, o que se descobre no papel quando este é mergulhado no líquido, a imagem que estava velada e que de repente se deixa ver.
Que giro!
[Fonte: horasextraordinarias.blogs.sapo.pt]
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