quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O mistério e a sedução do Pretérito Imperfeito

A melancolia adocicada do Pretérito Imperfeito
Gustavo Araújo
Pretérito Imperfeito, do escritor Gustavo Araújo, é um daqueles livros que você mal começa e já se apaixona. Sedutora e envolvente, a narrativa prende o leitor até a última página. Apesar de triste, tem aquela melancolia adocicada marcada pela amizade e pelo encantador universo do livro, que explora muito bem sua história. Também temos personagens bem definidos e trabalhados, que dificilmente deixarão a cabeça de quem os conheceu.
O melhor da obra é a maneira como o autor decidiu escrevê-la, usando três pontos de vista para narrar a história, o que definitivamente – e positivamente – aproxima muito o leitor dos personagens. Pedro, Toninho e Cecília parecem sair das páginas; eles têm muita vida, conquistam com suas personalidades e, quando menos esperamos, já capturaram nossa atenção. De modo intercalado, as visões dos protagonistas fazem com que o leitor rapidamente adentre na obra já nos primeiros capítulos.
E que protagonistas são esses? Quais são suas histórias e o que têm de mais marcante? Falar sobre isso sem spoiler é muito difícil…
Toninho, menino de treze anos, perdeu a mãe quando ainda era bem novo e não tem uma relação tão agradável com o pai. Como ama os pássaros, por influência de sua mãe, ele sonha em se tornar cientista. E, justamente por observar pássaros em uma clareira que conhece Cecília – que, apesar de ter um estilo de vida diferente da do menino, é parecida com ele no que tange os 
sonhos; a menina também tem suas paixões, que são ler e escrever.

A história de Cecília envolve o mistério sobre seu pai, que a deixa com a mãe em casa para fazer uma viagem enigmática. Esse segredo causa aquele friozinho na barriga, aquela tensão, que nos faz devorar cada página e criar altas teorias, ansiosos pelo desfecho e o revelar.
O pai de Toninho é o terceiro personagem de destaque, o Pedro Vieira. Ex-sargento da polícia, também tem seus mistérios e também nos faz ficar ansiosos. Muito ansiosos. Essa perspectiva nos faz refletir sobre a relação de Pedro com Toninho por outro ângulo – ele claramente ama o garoto, apesar da (famosa) falha de comunicação entre pai e filho, causando aquele incômodo distanciamento.
Pretérito Imperfeito, já começando pelo nome da obra, nos dá bastante o que pensar e vale cada minuto de sua leitura. Algumas lágrimas talvez rolem no decorrer da trama, mas também há momentos muito doces. Fica aquela reflexão sobre as chances que temos e perdemos em nossas vidas, as amizades que temos – e também as que não temos mais. Como um todo, é um livro incrível. Gustavo Araújo é um dos escritores brasileiros que merecidamente precisa de um lugar especial em nossas estantes, junto aos clássicos.

[Fonte: www.homoliteratus.com]

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