Em "O Túnel", escritor argentino transforma crises existenciais em thriller psicológico
"Romances, nos tempos que correm... Que os escrevam, ainda vá lá... Mas
que os leiam!", diz com ironia o antagonista de "O Túnel", o quinto dos
25 volumes da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas no dia 6/5.
Equilibrando-se entre luzes e sombras, o romance do escritor argentino
Ernesto Sabato (1911-2011), lançado em 1948, é um drama psicológico de
cunho existencialista travestido em narrativa policial. Começa, sem
suspenses, com a confissão de um assassinato pelo protagonista.
O artista plástico Juan Pablo Castel revela ter matado María Iribarne,
mulher por quem cultivava uma estranha obsessão. Ato que, em vez de
libertá-lo, o faz mergulhar em solidão desesperadora.
Castel tem sérios problemas para se comunicar, tanto através de sua obra
como socialmente -e o "túnel" do título funcionará como metáfora de seu
isolamento.
A obra, responsável por projetar o escritor no exterior, é conduzida
através da consciência do protagonista, perdido em sua incapacidade de
ser compreendido e refém da dúvida de uma traição.
Físico, militante político e debatedor de questões sociais, Ernesto
Sabato foi um dos mais importantes autores argentinos do século 20.
Seus romances, considerados de polida construção psicológica e povoados
de personagens complexos, são apresentados ao leitor por meio de
recursos narrativos originais e apurados.
Além da relevância literária, Sabato teria uma essencial atuação
política após o fim do regime militar que vigorou em seu país (1976-83).
Na ocasião, o escritor foi designado pelo então presidente da República,
Raúl Alfonsín, para presidir a comissão que investigou os desaparecidos
durante o regime. O resultado foi o histórico documento "Nunca Más".
Parte de sua vida seria, enfim, dedicada a tentar iluminar um dos mais
sombrios túneis da história recente: a extensa lista de crimes da
ditadura militar argentina.
[www.folha.com.br]
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