sábado, 23 de novembro de 2019

A Ilha dos Galegos em Maputo

Conta Marina Tavares Dias, no seu livro Lisboa desaparecida, que nos começos do século dezanove,  e ainda já bem entrado o mil e oito centos, Portugal acolhia da ordem de oitenta mil galegos, boa parte a trabalharem em Lisboa, uns como aguadeiros ou pedreiros e os outros, muitos outros,  a abrirem cantinas para comer e beber ginjinha ou a trazerem recados e papelzinhos amorosos. 



Por Xoán Costa

O conhecimento da cidade e, possivelmente a discrição (qualidade de discreto) bem paga, fizeram deles, dos galegos,  elemento imprescindível para entregar encomendas ou bilhetes amorosos. Tanta foi a participação nestes assuntos do coração  que precisavam esconderem-se das iras paternas, ou de maridos desconfiantes e receosos,  que se fez popular o dito de que “um amor sem galego era um amor sem pés”.

Do Rossio à Arcada, na Baixa ou no Chiado, por toda a parte estavam os galegos. Ali, no Chiado, mesmo havia um largo conhecido por "Ilha dos Galegos".

Hoje o Chiado já não tem ilha nem tem galegos mas se de Lisboa seguirmos a rota de Vasco da Gama até  Maputo e retrocedermos, assim sem mais,  aos anos cinquenta do século XX, acharíamos uma pequena praça, ponto de reunião da estudantada, de idosos reformados e ponto de passagem de quem ia para a praia da Polana tal como nos conta Virgínia Cabral em Memórias Ultramarinas.

Em Maputo, com a desaparição dos eléctricos também desapareceu a Ilha dos Galegos, na confluência da Av. Julius Nyerere e a Av. 24 de Julho. Mas alguma outra coisa há de haver que lembre o passado, ou o presente, pois os galegos continuamos na Galiza e, de seguir tanta borrasca a entrar pelas rias, a Galiza vai virar em ilha, a ilha das galegas e dos galegos.

[Fonte: www.sermosgaliza.gal]

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