"Margarita? Não tenho tequila. Mas posso te fazer um 'trago' (drink) refrescante com um vermute."
É cada vez mais comum ouvir propostas assim de um barman em Buenos
Aires. Desde que o governo argentino aumentou as medidas protecionistas
há mais de dois anos, a importação virou um problema no país.
Muitos produtos ficam retidos nos portos por causa da grande quantidade
de documentos exigidos. Outros chegam, mas em quantidades pequenas que
acabam rápido -é o caso mais comum com as bebidas. Os bares sofrem.
Uísques "single malt" e de marcas tradicionais como Jack Daniels e
Johnnie Walker, tequila José Cuervo, vodca Absolut, gins Bombay e
Tanqueray e cerveja Guiness são quase artigos de luxo em muitos bares
portenhos.
"Sou dono de bar há 17 anos e me dá muita vergonha dizer a um cliente
que não temos algumas dessas bebidas", diz Pablo Piñata, dono do Mundo
Bizarro, em Palermo. "Não é que estão me pedindo uma coisa muito
específica, são bebidas básicas. É incômodo não estar abastecido por
falta de produto."
Ele conta que há alguns dias conseguiu comprar em uma loja duas garrafas
de tequila, o produto mais em falta também por um problema da marca
mexicana com a distribuidora argentina.
Para que essas garrafas durem mais, Piñata não faz tanta propaganda dos
drinks à base do destilado. "Procuro oferecer sempre umas novas
combinações que colocamos no menu", diz.
Caso do Goldfinger, destaque na lousa sobre o balcão. O coquetel leva
rum, vermute, tônica, laranja e canela e custa 58 pesos (R$ 22,50).
Julían Díaz, dono do bar 878, que abriu em 2008 e é um dos mais
conhecidos da cidade, conta que na falta de tequila saem muitos drinks
com mescal. "Buscamos sempre uma bebida similar, mas nunca substituímos.
Prefiro não oferecer o 'trago'."
Na carta do local, há várias opções de coquetéis com aperitivos, à base
de vermutes como Cynar ou Cinzano. O que mais sai, ele diz, leva
hortelã, lima e maracujá.
"Tenho um coquetel que foi batizado com o nome em inglês do Guillermo
Moreno [secretário do Comércio Interior do país]: Willy Brown. Ele vai
levar só produtos nacionais, mas ainda não fizemos", brinca.
E quando os clientes pedem uma bebida que não encontram, a solução,
segundo Renato Giovannonni, sócio da Florería Atlantico, na Recoleta, é
dizer a verdade. "Eu falo: desculpe, mas esse é um país diferente e
temos um problema com importação."
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Pablo Piñata, dono do Mundo Bizarro (Buenos Aires), teve que criar drinques alternativos |
[Foto: Mariana Eliano/Folhapress - fonte: www.folha.com.br]
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