
O segundo núcleo é dedicado à Escola de Lisboa de iluminura, ativa no último quartel do século XV, cujos valor artístico e relevância histórica têm passado despercebidos. Através do recurso a fac-símiles e imagens digitalizadas, «Biblia de Lisboa» 1482 mostram-se as idiossincrasias e as principais caraterísticas plásticas desta escola de iluminura, cujas obras demonstram o elevado grau de acomodação cultural dos judeus portugueses, nomeadamente os judeus de Lisboa, e o apreço que tinham pelo livro religioso de aparato, à semelhança das elites cristãs da mesma época.
O terceiro núcleo identifica sinais da interação cultural – científica, teológica, artística – entre judeus e cristãos em Portugal no final da Idade Média, sobretudo entre a iluminura judaico-portuguesa e a iluminura cristã tardo-medievais. A pertença a um mesmo horizonte cultural e artístico e o consumo do livro de aparato explicam as afinidades existentes entre os livros cristãos e os livros judaicos. Importa destacar, no entanto, que entre 1470 e 1490 o foco mais rico de produção de iluminura feita em Portugal foi a Escola de Lisboa de iluminura judaica. À época, os manuscritos iluminados cristãos de maior valor artístico – sobretudo Livros de Horas – eram importados da Flandres e do Norte de França.

Finalmente, o último núcleo da exposição é dedicado à controvérsia religiosa judaico-cristã em Portugal, na qual emergem ódios e incompreensões mútuas, resultantes da radicalização religiosa. Entre a comunidade judaica portuguesa e a comunidade cristã, coexistem múltiplos sinais de intensa interação social, «Biblia de Lisboa cultural e artística, com sinais de exclusão e radicalização mútua do discurso religioso, vias contraditórias que estão, aliás, na base dos dois caminhos seguidos após os eventos de 1496/1497: a conversão ou o exílio dos judeus; sendo que o poder da época contribuiu para implementar à força a primeira, tudo fazendo para evitar o segundo.
Com esta exposição, pretende-se divulgar um património que representou um momento alto da arte e da cultura judaica, e portuguesa, do século XV, atualmente disperso e de difícil acesso.
Comissários: Luís Urbano Afonso e Adelaide Miranda
[Fonte: www.bnportugal.pt]
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