Não, não é o Bial. O pai do verdadeiro Big Brother, George Orwell
(1903-1950), também trocou o jornalismo por outro ramo. Mas manteve
distância segura de gente vocacionada para brilhar em reality shows.
Orwell preferiu a literatura às redações. No clássico "1984",
descreveu um regime totalitário em que o Grande Irmão investia em
câmeras para espionar a vida de cada cidadão. As cenas de tortura do
livro se passam numa certa Sala 101, referência ao local das reuniões
longas e improdutivas que aborreciam o autor quando ele ainda assinava
seu nome real, Eric Blair, e batia ponto na BBC.
Há poucos dias, o conselho de Westminster, que administra parte do
centro de Londres, autorizou a instalação de uma estátua do escritor em
frente à Broadcasting House, a sede reformada da rede britânica. Nada
anormal, se o anúncio não incluísse a informação de que a homenagem
deveria ter saído antes, mas foi censurada pela emissora.
O responsável pelo veto foi Mark Thompson, diretor-geral da BBC até o
ano passado. Segundo revelou uma das idealizadoras da estátua, ele achou
que o ex-funcionário ilustre não merecia a deferência por ter sido
"muito esquerdista". O executivo, que agora manda no New York Times,
confirmou a história.
Não deixa de ser irônico que o ªesquerdismoº tenha sido usado para punir
um escritor que teve uma de suas obras transformada em peça de campanha
contra o comunismo. Socialista democrático, Orwell despejou suas
críticas à URSS em "A Revolução dos Bichos", fábula sobre os desmandos de Stálin. Morreu em 1950, quando ainda pegava mal na esquerda criticar o Guia Genial dos Povos.
A estátua custará 110 mil libras (cerca de R$ 330 mil) e será bancada
por doações de gente como o dramaturgo Tom Stoppard e o humorista Rowan
Atkinson, o Mr. Bean.
Enquanto o Orwell de bronze não é inaugurado, os fãs do escritor podem
se deleitar com um site da BBC sobre a sua passagem pela rede. A página
reúne material de primeira, como o fac-símile da sua carta de demissão,
datilografada em setembro de 1943. Está tudo em bbc.co.uk/archive/orwell.
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O escritor britânico George Orwell (1903-1950), autor do clássico "1984", posa ao lado de microfone da BBC |
EU POLACO, TU POLACAS
"Dzien dobry" não é "good morning", mas a chance de ouvir as duas
palavras como cumprimento é cada vez maior por aqui. Na dúvida,
improvise um sorriso: você acabou de receber um bom-dia em polonês.
O idioma acaba de se tornar o mais falado na Inglaterra depois do
inglês, segundo o Censo 2011, divulgado no final do mês passado. Deixou
para trás o panjabi e o urdu, que lembram o colonialismo britânico na
Ásia e ainda reinam absolutos nos mercadinhos 24 horas.
A imigração polonesa viveu seu auge em 2004, quando o Reino Unido abriu
as portas a novos integrantes da União Europeia. Com a crise econômica,
muita gente voltou para casa nos últimos anos, e agora o país do Leste
Europeu vive uma invasão cultural ao contrário. Os linguistas de lá
batizaram o fenômeno de "ponglish", uma mistura de polonês e inglês que
já criou palavras engraçadas como "tiszert" ("t-shirt", ou camiseta).
BOLAS DA VEZ
O censo também investigou as línguas menos faladas na terra da rainha.
Ganhou outro resquício colonial: o crioulo caribenho, com apenas dois
falantes. Mais fácil ouvir o inglês jamaicano, cultivado por cantores
que imitam Bob Marley no metrô.
Quem estiver atrás de investimento seguro deve apostar em escolas de
inglês para falantes de romeno e búlgaro. São as línguas dos novos
migrantes, que poderão fincar bandeira na ilha.
FILA PARA SE MOLHAR
Numa cidade onde chove o tempo todo, parece estranho que legiões de
moradores e turistas enfrentem até três horas de fila num museu para...
pegar chuva. Mas esta é a receita do sucesso da "Rain Room", instalação
do grupo de arte contemporânea Random International que tem lotado o
Barbican Centre desde outubro.
O programa é entrar numa sala escura, em grupos de cinco por vez, e
caminhar numa simulação de chuva torrencial. Um conjunto de sensores
controla os jatos d'água para não encharcar os visitantes, contanto que
eles não estejam de preto e evitem movimentos bruscos.
Ninguém sai inteiramente seco, mas a reação geral é positiva. "Mesmo
sabendo como funciona, parece mágica", diz a carioca Elisa Cristophe,
que esteve lá em dezembro e se orgulha de ter esperado apenas uma hora e
meia para entrar.
A mostra termina no próximo domingo. Como a vida anda corrida, este diarista vai se contentar com a chuva do lado de fora.
[Fonte: www.folha.com.br]
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